"Lisboa, 21 de Setembro de 1992
Querida Marta
Amanhã é dia de anos do meu pai. Tenho andado a pensar no que hei-de oferecer-lhe, mas ainda não cheguei a nenhuma conclusão. Esta tarde, estive quase uma hora sentada na minha lua, a baloiçar e a dar voltas à cabeça para ver se tinha alguma ideia original. Ele pediu à minha mãe para não convidar ninguém, pois logo a seguir ao jantar tem de voltar para o hospital. (...)
Voltando ao assunto da prenda, a melhor ideia que me ocorreu foi oferecer-lhe uma moldura com uma fotografia que a avó me tirou o ano passado na praia. (...) Pode ser que ele goste e que se lembre um pouco de mim quando olhar para a mesa que tem no consultório...
De qualquer maneira, resolvi escrever-lhe um cartão de parabéns e, sem eu saber porquê, saiu-me uma coisa que nem sei se se pode chamar poema. É assim:
Às vezes cruzamo-nos no corredor
E eu acendo a luz para te ver melhor.
Jantamos juntos na noite de Natal
Porque senão parecia mal.
Deito-me sempre sem te ver chegar
E quando acordo já foste trabalhar.
Mudei de penteado e tu nem reparaste
Chamei-te muitas vezes e nem para trás olhaste.
Apesar de tudo, não quero mais nenhum
És um pai-fantasma, mas pai há só um...
E eu acendo a luz para te ver melhor.
Jantamos juntos na noite de Natal
Porque senão parecia mal.
Deito-me sempre sem te ver chegar
E quando acordo já foste trabalhar.
Mudei de penteado e tu nem reparaste
Chamei-te muitas vezes e nem para trás olhaste.
Apesar de tudo, não quero mais nenhum
És um pai-fantasma, mas pai há só um...
Será que é duro demais? Fui sincera e pronto. Amanhã, quando a mesa estiver posta para o jantar, ponho-lhe o cartão debaixo do guardanapo. Não quero que ele tenha uma indigestão, mas se ficar um bocado maldisposto, só lhe faz bem. Para aprender!
Um beijo da Joana”
Agora que leram tão atentamente este excerto... (espero eu!) digam-me lá de que obra foi retirado?
(Quem acertar até ao final da semana terá um bónus.... :)
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